domingo, 1 de janeiro de 2017

Happy new year, Happy new me!

A queda de cabelo na quimioterapia é um dos efeitos secundários que mais impacto tem na auto-estima de qualquer doente oncológico. Por mais que digam "é só cabelo", "depois volta a crescer", a verdade é que é muito difícil lidar com isso, com o cabelo, ou melhor, com a falta dele. Disseram-me muitas vezes "vais ver que isso não é o pior" e tinham razão... às vezes! Houve alturas em que nem me lembrava dele, só queria que alguns dos sintomas passassem rápido, bem rápido! E passavam, mas a carequinha estava sempre lá, brilhante e reluzente, uma espécie de rabinho de bebé, à espera de uma boa ensaboadela pela manhã e do creme hidratante que nunca falhava.

Hoje é o primeiro dia do ano... Deveria, como manda a tradição, estar a dissertar acerca de desejos, sonhos e perspetivas para 2017. Talvez esta minha publicação caia em saco roto, como 99,9% das resoluções que teimamos instituir a cada início de novos anos. Mas ainda assim, achei pertinente abordar, de novo, este assunto.

Precisamente há um ano (lá vem ela com as comemorações!), o meu cabelo começou a cair. Dez dias depois de terminar o primeiro ciclo de quimio, 5 dias antes de iniciar o segundo, para ser mais precisa. Do nada, no primeiro dia do ano, a ficha que ainda não tinha caído, caiu com os primeiros cabelos... Assim, sem piedade, o cabelo revoltou-se e decidiu cortar o mal pela raiz. Caiu, levando com ele os meus desejos, os meus sonhos e perspetivas para 2016. Estes cabelos encaracolados, que tiveram e têm a pretensão de serem lisos, sempre me deram dores de cabeça!

Nunca quis usar uma cabeleira. Sempre me pareceu um pouco artificial (no IPO consigo identificá-las a todas) e acho que me iria custar mais olhar nos olhos das pessoas e saber o que estavam a pensar, que aquele cabelo não era meu. Sou o que sou, aceito-me como sou e não tive culpa absolutamente nenhuma de ter tido um cancro, por isso não tinha nada a temer. Diverti-me bastante a combinar turbantes e a inventar formas diferentes de os colocar - talvez porque não tinha nada de muito interessante para fazer nessa altura! E aos pouquinhos fui aceitando o meu novo visual, deitei o preconceito para trás das costas e saí à rua, tantas vezes quantas o meu corpo permitiu.

Durante a quimio o meu corpo sofreu muitas alterações. Inchei e engordei, caíram-me parte das sobrancelhas e as pestanas... Eu bem tentava pôr rímel, mas tinha três pestanas em cada olho, por muito que me esforçasse, o rímel não era um grande aliado. Fiquei tão diferente que os lenços na cabeça acabavam por equilibrar a minha aparência - traziam alguma cor e vitalidade, além de preenchimento.

Passado um mês de acabar o tratamento estava bem melhor, mais adelgaçada, digamos, mas cabelo que é bom, nada!! Primeiro que crescesse foi uma luta, desesperava todos os dias em frente ao espelho, na esperança de ver um cabelinho, ainda que fraco, a despontar. Mas lá aconteceu e quando cresceu, cresceu com força! Não tive a felicidade de ficar com o cabelo liso (o Marco Paulo teve), mas começou a crescer forte, saudável e, claro, rebelde. Tão rebelde que já levou umas tesouradas e uns pós de perlim-pim-pim para o dominar!


Hoje, um ano depois, olho-me ao espelho e gosto do meu penteado. Aliás, gosto do meu aspeto, muito mais do que gostava antes de ter ficado doente. Sinto-me confiante, muito mais do que antes. Este linfoma tirou-me o cabelo, fez-me trinta por uma linha, mas deu-me uma grande estaleca! 

E porque quando olho para as minhas fotografias, tiradas ao longo deste ano, ainda consigo ficar perplexa com todas as mudanças que aconteceram em mim, decidi cumprir uma das ideias que tive há um ano atrás, documentar/registar essas mesmas mudanças. Por isso fiz este pequeno vídeo (sem música, para não puxar a lágrima) que decidi partilhar com todos aqueles que me foram acompanhando neste ano tão desgastante que foi 2016.





Desejo a todos um excelente 2017!
Tenham esperança, não a deixem morrer nunca, e acreditem que vai tudo correr pelo melhor.
Eu cá acho que o meu ano vai ser delicioso, cheio de desafios e de mudanças, e recuso-me a pensar que o meu corpo me pregará mais alguma partida!

Ah, e não desistam (jamais!) das vossas resoluções de ano novo. Lembrem-se da regra dos 3 F's: Força, Foco e (vale para tudo)!

Sejam felizes :)








4 comentários:

  1. Não consigo ver o vídeo :( pelo menos no telemóvel!

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  2. Sabes, Margarida nunca notei muitas diferenças no teu visual,talvez por te ver quase todos os dias, mas agora vendo o vídeo realmente como fostes modificando,excepto numa característica genuína o "Sorriso" lindo, aberto,natural, transmitia força,presente mesmo nas horas mais difíceis,nunca nos deixando esmorecer, e assim passou um ano..
    Muitos bjs Verinha.
    Bjs Verinha.

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  3. Bom Ano para ti Guida, vais ver que este ano será diferente, muito mehor, acredita.
    Quanto ao video,durante o ano tu tiveste muitas mudanças, mas o Charlie está sempre igual!Incrivél.
    Beijos grandes
    Susana

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  4. Boa tarde, sou jornalista na SIC e gostava de conhecer mais a sua história. Contacte-me para anaraquelc@gmail.com. Obrigada.

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