quarta-feira, 8 de junho de 2016

Hoje pela Mafalda, amanhã por cada um de nós!

Hoje vou usar este blog não para contar a minha história mas vos dar a conhecer a história da Mafalda. Uma história que não é a minha mas poderia perfeitamente ser. Aliás, podia ser a história de qualquer um de nós. Porque os azares não acontecem só aos outros, não é assim?

A Mafalda teve um linfoma aos 22 anos, quando estava a terminar a sua licenciatura. Formou-se em Matemática e tive o privilégio de ter tido a sua ajuda nessa matéria que foi sempre o meu calcanhar de aquiles! Há algum tempo atrás, depois de ter o seu segundo filho e já a realizar o doutoramento (que não pôde concluir), surgiu outro linfoma, de um sub-tipo diferente. Foi internada vezes sem conta, foi sujeita a uma quimioterapia muito intensiva... Com uma força inimaginável, voltou a vencer a doença. 

No entanto, as limitações são muitas, o corpo não é de ferro! Neste momento a Mafalda está a trabalhar a 100%, contra a vontade dos médicos. Gostaria de poder ver o seu horário de trabalho reduzido, em proporção às suas limitações. 
Procurou uma forma de o conseguir, mas no nosso país tal não é possível. Ou trabalha a 100% ou está de baixa. 

Optando pela baixa médica, não será injusto o contribuinte pagar para uma pessoa, que tem alguma capacidade para trabalhar, estar em casa a receber até, salvo erro, 80% do seu salário? 

Não será igualmente injusto uma pessoa querer trabalhar, apesar da sua incapacidade, e não poder ver o seu horário reduzido, de acordo com a % de incapacidade atribuída? 

Não deveria ser esta uma medida contemplada no conjunto de benefícios dados a quem é atribuída 60% de incapacidade decretada por junta médica? 

Não ficará o estado (e o contribuinte) a perder promovendo a atribuição de baixas médicas em vez de incentivar a inclusão de cidadãos portadores de incapacidade, sem redução de remuneração, no mercado de trabalho?

A Mafalda tem sido notícia em várias revistas/jornais, dá a cara por todos nós, numa luta que hoje é dela mas amanhã poderá ser a nossa.  
Vamos ajudá-la?

Deixo o link para a petição, aqui.






terça-feira, 7 de junho de 2016

Dar cabo do Barrabás - Parte 2

Começou a radioterapia.
Depois das voltas e reviravoltas que esta história deu, começou finalmente a segunda parte do tratamento. Já tinha tido uma consulta de radio-oncologia, logo depois de ter terminado a quimioterapia. Nessa consulta fiquei a conhecer a minha médica da radio, também ela, à semelhança da Dra Ilídia, uma querida. Explicou-me em que consistia o tratamento e falou-me dos efeitos secundários. 

A curto prazo podem surgir alguns efeitos localizados, resultantes da agressão dos tecidos irradiados. Tendo em conta que o alvo é a zona torácica, pode surgir inflamação do esófago o que, por sua vez, pode provocar dor, dificuldade e desconforto ao ingerir alimentos, bem como náuseas, e em casos extremos, vómitos. Outro efeito frequente da radioterapia (seja em que local for) são as queimaduras na pele... E para isso só há um remédio, proteger e hidratar. Isto significa duas coisas: a primeira é que posso esquecer os banhos de sol este verão e a segunda é que vou gastar uns bons euros em Biafine, Nívea e protetor solar 50+. É que para além da queimadura que, eventualmente, possa acontecer, há uma pele sensibilizada pela quimioterapia... 
Cansaço, diminuição dos glóbulos brancos, são outras reações que podem ocorrer e que desaparecem com a cessação do tratamento.

A longo prazo é que a porca torce o rabo. Por mais avançada que esteja a Medicina, por muito que calculem, ao milímetro, o local de incidência da radiação, não há por onde fugir: as radiações atingem não só os tumores mas também os tecidos circundantes. Quer isto dizer que, no meu caso, os pulmões, coração, tiróide, mama, tubo digestivo e pele são também afetados pelas radiações. De uma forma muito simplista, a radiação provoca alterações nas células que, um dia mais tarde, podem transformar-se em... células malignas! A longo prazo, o risco de aparecimento de outro cancro nestes tecidos é maior para mim do que para um indivíduo saudável. Certamente, o benefício da radioterapia compensa este risco, caso contrário não seria uma opção. E, apesar de tudo, não deixa de ser um risco... Pode acontecer ou não!

Depois de uma longa conversa com a Dra Carla, fui encaminhada para a sala de tac, para fazer a marcação da área a ser irradiada. Como a radioterapia é um tratamento de várias sessões, opta-se por uma marcação permanente para que, todos os dias, a radiação incida no mesmo local. Ou seja, fizeram-me umas mini tatuagens, 4 pontinhos, 2 na zona axilar e outros 2 junto ao esterno. Quase não se notam e por isso não me aflige que sejam para toda a vida!

Depois desta consulta passaram-se muitas semanas e ontem, 6/6/16, lá voltei ao IPO para ter consulta e tratamento. Na consulta fiquei a saber todos os cuidados a ter nesta fase, o que posso ou não fazer (nada de piscinas, mesmo que esteja um calor abrasador e que essa pareça a única solução!), e o mais importante de tudo, o número de sessões. Vão ser 20, 5 dias por semana, à excepção da semana do S. João, porque vão todos para o bailarico no dia 23! Sendo assim, até dia 4 de Julho vou ter de ir ao IPO quase todos os dias... 
Para compensar esta canseira, os tratamentos são muito rápidos. O tempo de espera é curto, ao fim de cerca de 10 minutos entramos para o vestiário e de lá passamos para a sala de tratamento. À nossa espera estão sempre duas terapeutas cuja função é deitar-me na maca e colocar o meu corpo na posição certa, com ajuda de um molde onde encaixa a cabeça e braços. Este alinhamento demora tanto tempo como o próprio tratamento. Empurram de um lado, puxam de outro e quando finalmente estão os 4 pontos acertados, saem da sala e ficam a ver-me por um ecrã enquanto o aparelho da radiação anda à minha volta. 

Não há nada como ver com os nossos próprios olhos e este é o acelerador linear, o aparelho que emite a radiação.

Duas moedinhas, duas voltinhas e estou pronta para me ir embora! 

O tratamento é totalmente indolor, não causa qualquer tipo de reação de calor ou de vibração. Ah, e também não se fica radioativo como na PET, por isso posso estar com grávidas e crianças à vontade, não represento nenhum risco para os outros. E ainda bem,
porque os meus primeiros "sobrinhos" estão a caminho! :D

Ao fim de meia hora já estou fora do IPO e faço aquela contagem decrescente... Já só faltam 18 sessões!

Para já não sinto qualquer efeito do tratamento, mas também é muito cedo para isso, penso. Daqui a uma semana tenho consulta, para a médica ir acompanhando o processo. Até lá vou estudando (os exames na faculdade estão aí à porta) e vou aproveitar o verão que, finalmente, chegou!