sexta-feira, 11 de março de 2016

Guida 6 - 0 Barrabás

Lição do dia: nunca tentem remarcar uma consulta no IPO. Resolvi seguir a sugestão da Dra Ilídia na consulta passada (5º ciclo) e tentei mudar a consulta de quarta para quinta-feira, dia em que tinha hospital de dia, assim evitava a viagem ao Porto duas vezes. Foi pior a emenda que o soneto, como se costuma dizer. Não só me remarcaram a consulta como também remarcaram as análises, e o hospital de dia... Quase tudo para a mesma hora! Quando me apercebi destas trocas absurdas liguei para lá. Deram-me um conselho à Português... "Olhe, venha, e depois logo se vê!"

Às 13.30h, hora marcada para as análises já estava na sala de espera. Que diferença, é tão melhor fazer análises a esta hora: sala com pouca gente, tempo de espera mínimo. 
Depois das análises fui tentar resolver o imbróglio dos horários sobrepostos. Está fora de questão fazer quimio sem consultar o médico, mas conseguiram marcar-me a consulta para depois da hora da quimio! Só havia uma opção, esperar pela consulta das 15h40 e rezar para que não me adiassem o tratamento para o dia seguinte. Acho que nunca desesperei tanto na sala de espera da clínica de Onco-hematologia. Tinha um livro para ler mas mal consegui pegar nele. Primeiro porque há múltiplas distrações e eu gosto de ler sossegadinha no meu canto e depois porque estou a gostar imenso dele e acho que iria, de certa forma, marcar o livro com a memória de o estar a ler e a terminá-lo naquela sala de espera. Esperei quase 3 horas pela consulta. Passou-me tudo pela cabeça: o resultado da PET podia alterar todo o cenário previsto inicialmente. Podia prolongar o tratamento ou, por milagre, dispensar a concretização da sexta quimio! Ou então mantinha-se tudo como previsto. 

Finalmente chamaram-me. Falso alarme, quando ia a entrar no consultório dizem-me para voltar para a sala de espera porque ainda não havia resultado das análises. Afinal não há grande vantagem em ir fazê-las numa hora de menos "trânsito"... Quando estava a atingir o pico do desespero, chamaram-me pela segunda vez, até que enfim!!

Vou tentar resumir muito rapidamente o tempo que passei com a minha médica. 
Fez-me as perguntas habituais sobre como tenho passado e se sinto algo de diferente. Demonstrou alguma preocupação quando lhe disse que estava constipada há uma semana e que não há grande sinal de melhoras... Mas desde que não tenha febre, nem tosse com expectoração está tudo bem! E agora vamos ao que interessa: resultado da PET. O exame mostra ainda alguma positividade. Prefiro substituir esta palavra, usada pela médica, por atividade. Ou seja, há ali qualquer coisa a dar sinal. Mas é um sinal residual. Podem ser ainda células malignas mas também pode ser resultado do processo de inflamação, do processo de morte de celular. A minha mãe perguntou se há a possibilidade de permanecer e, consequentemente, viver com uma massa de células que, eventualmente, resistissem ao tratamento. A médica explicou que é como uma corte na pele... Fica sempre uma cicatriz. Neste caso é mais ou menos isso. Posso ficar sempre com umas célulazitas, que, não sendo malignas, são células diferentes das normais. Foi a minha vez de perguntar, como podemos ter a certeza de que o linfoma bateu a bota? Ora bem, só fazendo uma biópsia. 

Em vez disso, vamos seguir com o protocolo e passar à radioterapia. O que quer que seja e que ainda lá está não há-de resistir à radiação. Foi aqui que percebi que está tudo a correr dentro do previsto. O linfoma de 12 cm está num estado residual... Ao fim de 4 ciclos! Não podia ser de outra forma, eu disse, desde o início, que este linfoma estava feito ao bife!!! :D

O próximo passo é uma segunda PET, que vai ser feita daqui a umas 3 semanas. Pedi à Dra para a marcar só depois de dia 31, assim não atrapalha o meu exame na faculdade. Acedeu ao meu pedido e vai ser marcada para o início do próximo mês. Depois disso segue-se uma consulta com a médica da radioterapia, a Dra Marta. Com os dados da PET ao fim dos 6 ciclos, a minha nova Personal Trailer vai estabelecer um novo plano de tratamento. Agora estão na moda aqueles treinos de alta intensidade, para melhores resultados... A radioterapia é mais ou menos isso, obriga-me a ir ao IPO 5 vezes na semana. Vai ser dose!

As boas notícias continuam. Daqui a duas semanas os meus valores sanguíneos vão voltar ao normal, as minhas defesas vão ficar minimamente restabelecidas. Minimamente porque, como me disse a médica, recuperar a integridade do meu sistema imunitário vai demorar uns meses... Mas, entretanto, posso voltar à minha vida normal. Vou poder viajar em transportes públicos (= ir a Lisboa ver o meu namorado e amigos por 20 euros na Ryanair), nadar, inscrever-me no ginásio, comer as framboesas que tanto adoro, uma simples salada de alface e tomate quando for a um restaurante, ir a um espetáculo, ir ao cinema sem que ninguém fique a olhar para a minha máscara... Coisas simples, aparentemente, mas tão essenciais para mim!

Às 17.30h comecei a quimio. A enfermeira responsável por me administrar o tratamento de hoje perguntou-me como estava a ser esta caminhada. Os meus olhos encheram-se de lágrimas quando lhe disse que era a última. Os dela também (uns olhos azuis brutais). Contei-lhe da PET, da radio, dos meus planos para os meses que aí vem, enquanto ela me dava a injeção de Rituximab que demora séculos... Vá, uns minutos, porque a solução é tão espessa que custa a entrar no corpo!



Recostei o cadeirão o mais que pude e adormeci. 
E, de repente, passou-se a quimio. Acabou, finito!! 
Nunca mais vou ter de esperar horas pela minha vez nas diversas salas de espera, nunca mais vou ter de ser picada 3 vezes em sítios diferentes no mesmo dia, nunca mais vou ter de me sujeitar à seca das horas intermináveis naquele instituto, que tem tanto de mau como de bom. Pelo menos nas próximas 3 semanas!
Não acabou o martírio do cancro (que começou faz hoje, precisamente, 4 meses), para já acabou o martírio da quimioterapia. Para mim, para o meu pai, para o meu irmão, para a minha mãe, que é a pessoa que nunca sai de ao pé de mim (ou como se diz cá em cima, da "minha beira"), tanto fisicamente como no pensamento. Para o Pedro, que apesar de estar longe é um dos meus pilares. Para toda a minha família, para todos os meus amigos. 
Outras etapas se seguirão, fardos bem menos pesados que vou ter de suportar. 

Depois disto, tudo o que vier são "peaners"!

Agora vou dormir, que o tratamento dá-me um cansaço desgraçado. 
Mas não podia deixar de passar por cá e contar as boas novas. Quem me acompanha sempre merece esse meu esforço. Porque foi a energia de todos que me fez chegar aqui. Lembrei-me, neste preciso momento, do anúncio da Galp que diz que se queremos chegar rápido vamos sozinhos mas se queremos ir longe, vamos juntos. 
Fintar um linfoma e dar-lhe 6 a 0 não foi fácil mas OBRIGADA, do fundo do meu coração, pela vossa energia, que gerou mais energia em mim!


PS: Nas próximas semanas tenho de dedicar-me, com todas as minhas forças, ao estudo para o exame que vou realizar. O meu rendimento mental não é o mesmo nesta fase (ainda estou sob o efeito da quimio) e por isso tenho de redobrar o esforço. Não estranhem a minha ausência se, eventualmente, acontecer.



terça-feira, 8 de março de 2016

Dia Internacional da Mulher


Há vídeos que não requerem grandes descrições, falam por si só.

Este, é dedicado às GUERREIRAS que, com a sua luta, dão significado à palavra MULHER.


sexta-feira, 4 de março de 2016

Careca Power

Lembram-se da Marine, do Cancro com Humor?
A Marine deu uma palestra sobre o projeto dela na Casa Ronald McDonald, à qual eu assisti. Depois desse dia, a Marine convidou-me a dar o meu testemunho, testemunho esse que se destinava a ser incluído numa “secção” do blog Cancro com Humor chamado de Movimento Careca Power. 
Quando (d)escrevi a minha experiência, estava entre o segundo e terceiro ciclo de quimioterapia. Tinha acabado de receber boas notícias e ainda nem tinha chegado a meio do tratamento. Por diversos motivos, nomeadamente a internacionalização do projeto da Marine, só ontem o meu testemunho foi publicado por ela. Desde que o escrevi até ser publicado passaram-se algumas semanas, 3 ciclos de quimioterapia, para ser mais precisa. Se, na altura, ainda nem a meio ia, hoje já só me falta uma sessão.

Ontem, Enquanto relia as minhas palavras apercebi-me de alguns factos.

Primeiro de tudo, a forma como a existência do Cancro com Humor modificou toda a minha experiência e forma de encarar o cancro. Lembro-me de, por altura do Natal, me perguntarem se ia sozinha a um dos jantares para o qual fui convidada. Respondi que não, que levaria o meu cancro também. Recordo-me de me sentir arrependida por ter dado esta resposta, não sabia se ia chocar quem a receberia, se era politicamente correto brincar com um assunto que não tem piada nenhuma. Senti-me culpada, vá! Depois da palestra da Marine percebi que, se me “divertia” a fazer piadas sobre a minha própria doença, não me deveria sentir mal por isso. Afinal o cancro é meu, sou eu que o aturo e por isso tenho todo o direito de dizer o que bem me apetece sobre ele! 
Mas calma, não ando para aí a dizer o que me vem à cabeça, tenho dois dedos de testa e sei bem com quem me posso "esticar"! Por outro lado também há quem se estique comigo e tente utilizar o meu cancro como meio para obter determinados fins (em tom de brincadeira, como é lógico). Dou-vos um exemplo: tentei ir com umas amigas a uma loja da Nutella. Havia uma fila interminável e ficamos a olhar umas para as outras quando nos apercebemos do tamanho dela... “Eh pa, dizemos que ela tem uma cancro!”, disse uma. Vira-se a outra “Dizemos que é o último desejo dela, que achas?”. Pronto, são estas as amigas que tenho. E ainda bem que as tenho, porque fartei-me de rir com estas intervenções!!

Em segundo lugar, questionei-me sobre se o meu discurso de hoje seria o mesmo que foi naquele dia. Provavelmente não, porque as palavras saem sempre de forma diferente. Há dias que não me apetece mesmo escrever. Há outros em que tenho palavras e ideias a fervilhar, um autêntico brainstorm. Palavras à parte, passou-se muita coisa neste intervalo de tempo... O motivo da minha força no dia em que escrevi o meu testemunho para a Marine não é o motivo da minha força de hoje. A intensidade da força que pretendia transmitir a todos os carequinhas a quem se destina o texto, essa sim, permanece a mesma. Já a nível de frequência... Tem dias! Estou cansada, muito cansada deste processo. Não é cansaço físico, é cansaço mental, entenda-se. Motivos para me agarrar à vida não me faltam, é certo, mas há dias negros, é impossível negar a existência deles. Nesses dias luto comigo própria, tento praticar a filosofia do viver aqui e agora sem pensar no futuro, sem pensar nas voltas que a vida deu e nas voltas que vai ter de dar para que tudo se recomponha. 
Mas há dias bons, há dias que, sem nada em particular, são agradáveis e ponto. Há dias em que me sinto tão bem que nem parece que sou uma doente oncológica. Tenho dito a várias pessoas que, por ver o final tão perto, até parece que tenho tido menos efeitos secundários. Vou dizer à Dra Ilídia que devo ser um caso de estudo porque o meu relato não vai ao encontro da maior parte dos relatos que ouço. O “ah e tal, prepara-te porque os efeitos secundários agravam-se com as quimios” não combina comigo, com a minha quimio.
Serão as minhas estrelinhas (onde quer que elas estejam)?

Para lerem o meu testemunho Careca Power podem aceder aqui.

E não deixem de seguir o blog e facebook da Marine, ela sim, é uma grande Mulher e força da natureza.