terça-feira, 7 de junho de 2016

Dar cabo do Barrabás - Parte 2

Começou a radioterapia.
Depois das voltas e reviravoltas que esta história deu, começou finalmente a segunda parte do tratamento. Já tinha tido uma consulta de radio-oncologia, logo depois de ter terminado a quimioterapia. Nessa consulta fiquei a conhecer a minha médica da radio, também ela, à semelhança da Dra Ilídia, uma querida. Explicou-me em que consistia o tratamento e falou-me dos efeitos secundários. 

A curto prazo podem surgir alguns efeitos localizados, resultantes da agressão dos tecidos irradiados. Tendo em conta que o alvo é a zona torácica, pode surgir inflamação do esófago o que, por sua vez, pode provocar dor, dificuldade e desconforto ao ingerir alimentos, bem como náuseas, e em casos extremos, vómitos. Outro efeito frequente da radioterapia (seja em que local for) são as queimaduras na pele... E para isso só há um remédio, proteger e hidratar. Isto significa duas coisas: a primeira é que posso esquecer os banhos de sol este verão e a segunda é que vou gastar uns bons euros em Biafine, Nívea e protetor solar 50+. É que para além da queimadura que, eventualmente, possa acontecer, há uma pele sensibilizada pela quimioterapia... 
Cansaço, diminuição dos glóbulos brancos, são outras reações que podem ocorrer e que desaparecem com a cessação do tratamento.

A longo prazo é que a porca torce o rabo. Por mais avançada que esteja a Medicina, por muito que calculem, ao milímetro, o local de incidência da radiação, não há por onde fugir: as radiações atingem não só os tumores mas também os tecidos circundantes. Quer isto dizer que, no meu caso, os pulmões, coração, tiróide, mama, tubo digestivo e pele são também afetados pelas radiações. De uma forma muito simplista, a radiação provoca alterações nas células que, um dia mais tarde, podem transformar-se em... células malignas! A longo prazo, o risco de aparecimento de outro cancro nestes tecidos é maior para mim do que para um indivíduo saudável. Certamente, o benefício da radioterapia compensa este risco, caso contrário não seria uma opção. E, apesar de tudo, não deixa de ser um risco... Pode acontecer ou não!

Depois de uma longa conversa com a Dra Carla, fui encaminhada para a sala de tac, para fazer a marcação da área a ser irradiada. Como a radioterapia é um tratamento de várias sessões, opta-se por uma marcação permanente para que, todos os dias, a radiação incida no mesmo local. Ou seja, fizeram-me umas mini tatuagens, 4 pontinhos, 2 na zona axilar e outros 2 junto ao esterno. Quase não se notam e por isso não me aflige que sejam para toda a vida!

Depois desta consulta passaram-se muitas semanas e ontem, 6/6/16, lá voltei ao IPO para ter consulta e tratamento. Na consulta fiquei a saber todos os cuidados a ter nesta fase, o que posso ou não fazer (nada de piscinas, mesmo que esteja um calor abrasador e que essa pareça a única solução!), e o mais importante de tudo, o número de sessões. Vão ser 20, 5 dias por semana, à excepção da semana do S. João, porque vão todos para o bailarico no dia 23! Sendo assim, até dia 4 de Julho vou ter de ir ao IPO quase todos os dias... 
Para compensar esta canseira, os tratamentos são muito rápidos. O tempo de espera é curto, ao fim de cerca de 10 minutos entramos para o vestiário e de lá passamos para a sala de tratamento. À nossa espera estão sempre duas terapeutas cuja função é deitar-me na maca e colocar o meu corpo na posição certa, com ajuda de um molde onde encaixa a cabeça e braços. Este alinhamento demora tanto tempo como o próprio tratamento. Empurram de um lado, puxam de outro e quando finalmente estão os 4 pontos acertados, saem da sala e ficam a ver-me por um ecrã enquanto o aparelho da radiação anda à minha volta. 

Não há nada como ver com os nossos próprios olhos e este é o acelerador linear, o aparelho que emite a radiação.

Duas moedinhas, duas voltinhas e estou pronta para me ir embora! 

O tratamento é totalmente indolor, não causa qualquer tipo de reação de calor ou de vibração. Ah, e também não se fica radioativo como na PET, por isso posso estar com grávidas e crianças à vontade, não represento nenhum risco para os outros. E ainda bem,
porque os meus primeiros "sobrinhos" estão a caminho! :D

Ao fim de meia hora já estou fora do IPO e faço aquela contagem decrescente... Já só faltam 18 sessões!

Para já não sinto qualquer efeito do tratamento, mas também é muito cedo para isso, penso. Daqui a uma semana tenho consulta, para a médica ir acompanhando o processo. Até lá vou estudando (os exames na faculdade estão aí à porta) e vou aproveitar o verão que, finalmente, chegou! 




5 comentários:

  1. Olá Margarida, quando estou a ler todas as tuas diferentes e dolorosas experiências, tenho sempre a sensação que tudo isto é mais leve do que realmente será, deve ser pela tua maneira de escrever e encarar esta doença, com esta leveza e ternura ajudas com que os nossos medos e receios se tornem menos pesados.
    Obrigada pela partilha, não podemos esquecer que somos todos potenciais candidatos ao cancro.
    Muitos beijinhos Verinha

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  2. Guida ,já falta pouco para tudo entrar nos "eixos", só mais um bocadinho e vais ver que num instante tudo volta ao normal,e aí vais poder arrumar tudo o que ficou fora de sítio.
    Sempre muita força.
    Beijos grandes.

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  3. Guida ,já falta pouco para tudo entrar nos "eixos", só mais um bocadinho e vais ver que num instante tudo volta ao normal,e aí vais poder arrumar tudo o que ficou fora de sítio.
    Sempre muita força.
    Beijos grandes.

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  4. Olá Margarida.
    Soube hoje pelo facebook pelo que estás a passar. Esse cancro que contigo está mesmo feito ao bife. ☺Gostei muito do teu blog e será certamente uma forma de ajudares outras pessoas, para além de ti e dos teus.
    Quero deixar-te um beijo muito grande e muita força.
    Luta sempre.
    Joana Salgado

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  5. Ola guida tenho lido as tuas conquistas .... admiro a forma como contas as tuas aventuras... mas és uma menina muito corajosa e forte e tudo vai passar . Muita força um beijo grande
    Armandina Abreu

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