Lição do dia: nunca tentem remarcar uma consulta no IPO. Resolvi seguir a sugestão da Dra Ilídia na consulta passada (5º ciclo) e tentei mudar a consulta de quarta para quinta-feira, dia em que tinha hospital de dia, assim evitava a viagem ao Porto duas vezes. Foi pior a emenda que o soneto, como se costuma dizer. Não só me remarcaram a consulta como também remarcaram as análises, e o hospital de dia... Quase tudo para a mesma hora! Quando me apercebi destas trocas absurdas liguei para lá. Deram-me um conselho à Português... "Olhe, venha, e depois logo se vê!"
Às 13.30h, hora marcada para as análises já estava na sala de espera. Que diferença, é tão melhor fazer análises a esta hora: sala com pouca gente, tempo de espera mínimo.
Depois das análises fui tentar resolver o imbróglio dos horários sobrepostos. Está fora de questão fazer quimio sem consultar o médico, mas conseguiram marcar-me a consulta para depois da hora da quimio! Só havia uma opção, esperar pela consulta das 15h40 e rezar para que não me adiassem o tratamento para o dia seguinte. Acho que nunca desesperei tanto na sala de espera da clínica de Onco-hematologia. Tinha um livro para ler mas mal consegui pegar nele. Primeiro porque há múltiplas distrações e eu gosto de ler sossegadinha no meu canto e depois porque estou a gostar imenso dele e acho que iria, de certa forma, marcar o livro com a memória de o estar a ler e a terminá-lo naquela sala de espera. Esperei quase 3 horas pela consulta. Passou-me tudo pela cabeça: o resultado da PET podia alterar todo o cenário previsto inicialmente. Podia prolongar o tratamento ou, por milagre, dispensar a concretização da sexta quimio! Ou então mantinha-se tudo como previsto.
Finalmente chamaram-me. Falso alarme, quando ia a entrar no consultório dizem-me para voltar para a sala de espera porque ainda não havia resultado das análises. Afinal não há grande vantagem em ir fazê-las numa hora de menos "trânsito"... Quando estava a atingir o pico do desespero, chamaram-me pela segunda vez, até que enfim!!
Vou tentar resumir muito rapidamente o tempo que passei com a minha médica.
Fez-me as perguntas habituais sobre como tenho passado e se sinto algo de diferente. Demonstrou alguma preocupação quando lhe disse que estava constipada há uma semana e que não há grande sinal de melhoras... Mas desde que não tenha febre, nem tosse com expectoração está tudo bem! E agora vamos ao que interessa: resultado da PET. O exame mostra ainda alguma positividade. Prefiro substituir esta palavra, usada pela médica, por atividade. Ou seja, há ali qualquer coisa a dar sinal. Mas é um sinal residual. Podem ser ainda células malignas mas também pode ser resultado do processo de inflamação, do processo de morte de celular. A minha mãe perguntou se há a possibilidade de permanecer e, consequentemente, viver com uma massa de células que, eventualmente, resistissem ao tratamento. A médica explicou que é como uma corte na pele... Fica sempre uma cicatriz. Neste caso é mais ou menos isso. Posso ficar sempre com umas célulazitas, que, não sendo malignas, são células diferentes das normais. Foi a minha vez de perguntar, como podemos ter a certeza de que o linfoma bateu a bota? Ora bem, só fazendo uma biópsia.
Em vez disso, vamos seguir com o protocolo e passar à radioterapia. O que quer que seja e que ainda lá está não há-de resistir à radiação. Foi aqui que percebi que está tudo a correr dentro do previsto. O linfoma de 12 cm está num estado residual... Ao fim de 4 ciclos! Não podia ser de outra forma, eu disse, desde o início, que este linfoma estava feito ao bife!!! :D
O próximo passo é uma segunda PET, que vai ser feita daqui a umas 3 semanas. Pedi à Dra para a marcar só depois de dia 31, assim não atrapalha o meu exame na faculdade. Acedeu ao meu pedido e vai ser marcada para o início do próximo mês. Depois disso segue-se uma consulta com a médica da radioterapia, a Dra Marta. Com os dados da PET ao fim dos 6 ciclos, a minha nova Personal Trailer vai estabelecer um novo plano de tratamento. Agora estão na moda aqueles treinos de alta intensidade, para melhores resultados... A radioterapia é mais ou menos isso, obriga-me a ir ao IPO 5 vezes na semana. Vai ser dose!
As boas notícias continuam. Daqui a duas semanas os meus valores sanguíneos vão voltar ao normal, as minhas defesas vão ficar minimamente restabelecidas. Minimamente porque, como me disse a médica, recuperar a integridade do meu sistema imunitário vai demorar uns meses... Mas, entretanto, posso voltar à minha vida normal. Vou poder viajar em transportes públicos (= ir a Lisboa ver o meu namorado e amigos por 20 euros na Ryanair), nadar, inscrever-me no ginásio, comer as framboesas que tanto adoro, uma simples salada de alface e tomate quando for a um restaurante, ir a um espetáculo, ir ao cinema sem que ninguém fique a olhar para a minha máscara... Coisas simples, aparentemente, mas tão essenciais para mim!
Às 17.30h comecei a quimio. A enfermeira responsável por me administrar o tratamento de hoje perguntou-me como estava a ser esta caminhada. Os meus olhos encheram-se de lágrimas quando lhe disse que era a última. Os dela também (uns olhos azuis brutais). Contei-lhe da PET, da radio, dos meus planos para os meses que aí vem, enquanto ela me dava a injeção de Rituximab que demora séculos... Vá, uns minutos, porque a solução é tão espessa que custa a entrar no corpo!
Recostei o cadeirão o mais que pude e adormeci.
E, de repente, passou-se a quimio. Acabou, finito!!
Nunca mais vou ter de esperar horas pela minha vez nas diversas salas de espera, nunca mais vou ter de ser picada 3 vezes em sítios diferentes no mesmo dia, nunca mais vou ter de me sujeitar à seca das horas intermináveis naquele instituto, que tem tanto de mau como de bom. Pelo menos nas próximas 3 semanas!
Não acabou o martírio do cancro (que começou faz hoje, precisamente, 4 meses), para já acabou o martírio da quimioterapia. Para mim, para o meu pai, para o meu irmão, para a minha mãe, que é a pessoa que nunca sai de ao pé de mim (ou como se diz cá em cima, da "minha beira"), tanto fisicamente como no pensamento. Para o Pedro, que apesar de estar longe é um dos meus pilares. Para toda a minha família, para todos os meus amigos.
Outras etapas se seguirão, fardos bem menos pesados que vou ter de suportar.
Depois disto, tudo o que vier são "peaners"!
Agora vou dormir, que o tratamento dá-me um cansaço desgraçado.
Mas não podia deixar de passar por cá e contar as boas novas. Quem me acompanha sempre merece esse meu esforço. Porque foi a energia de todos que me fez chegar aqui. Lembrei-me, neste preciso momento, do anúncio da Galp que diz que se queremos chegar rápido vamos sozinhos mas se queremos ir longe, vamos juntos.
Fintar um linfoma e dar-lhe 6 a 0 não foi fácil mas OBRIGADA, do fundo do meu coração, pela vossa energia, que gerou mais energia em mim!
PS: Nas próximas semanas tenho de dedicar-me, com todas as minhas forças, ao estudo para o exame que vou realizar. O meu rendimento mental não é o mesmo nesta fase (ainda estou sob o efeito da quimio) e por isso tenho de redobrar o esforço. Não estranhem a minha ausência se, eventualmente, acontecer.