Lembram-se da Marine, do Cancro com Humor?
A Marine deu uma palestra sobre o projeto dela na Casa Ronald McDonald, à qual eu assisti. Depois desse dia, a Marine convidou-me a
dar o meu testemunho, testemunho esse que se destinava a ser incluído numa
“secção” do blog Cancro com Humor chamado de Movimento Careca Power.
Quando
(d)escrevi a minha experiência, estava entre o segundo e terceiro ciclo de
quimioterapia. Tinha acabado de receber boas notícias e ainda nem tinha chegado
a meio do tratamento. Por diversos motivos, nomeadamente a internacionalização
do projeto da Marine, só ontem o meu testemunho foi publicado por ela. Desde
que o escrevi até ser publicado passaram-se algumas semanas, 3 ciclos de
quimioterapia, para ser mais precisa. Se, na altura, ainda nem a meio ia, hoje já
só me falta uma sessão.
Ontem, Enquanto relia as minhas palavras apercebi-me de
alguns factos.
Primeiro de tudo, a forma como a existência do Cancro com
Humor modificou toda a minha experiência e forma de encarar o cancro. Lembro-me
de, por altura do Natal, me perguntarem se ia sozinha a um dos jantares para o
qual fui convidada. Respondi que não, que levaria o meu cancro também.
Recordo-me de me sentir arrependida por ter dado esta resposta, não sabia se ia
chocar quem a receberia, se era politicamente correto brincar com um assunto que
não tem piada nenhuma. Senti-me culpada, vá! Depois da palestra da Marine
percebi que, se me “divertia” a fazer piadas sobre a minha própria doença, não
me deveria sentir mal por isso. Afinal o cancro é meu, sou eu que o aturo e por
isso tenho todo o direito de dizer o que bem me apetece sobre ele!
Mas calma,
não ando para aí a dizer o que me vem à cabeça, tenho dois dedos de testa e sei
bem com quem me posso "esticar"! Por outro lado também há quem se estique comigo
e tente utilizar o meu cancro como meio para obter determinados fins (em tom de
brincadeira, como é lógico). Dou-vos um exemplo: tentei ir com umas amigas a uma
loja da Nutella. Havia uma fila interminável e ficamos a olhar umas para as outras quando nos apercebemos do tamanho dela... “Eh pa, dizemos que ela tem uma
cancro!”, disse uma. Vira-se a outra “Dizemos que é o último desejo dela, que
achas?”. Pronto, são estas as amigas que tenho. E ainda bem que as tenho,
porque fartei-me de rir com estas intervenções!!
Em segundo lugar, questionei-me sobre se o meu discurso de hoje seria o mesmo que foi naquele dia. Provavelmente não, porque as palavras
saem sempre de forma diferente. Há dias que não me apetece mesmo escrever. Há
outros em que tenho palavras e ideias a fervilhar, um autêntico brainstorm. Palavras
à parte, passou-se muita coisa neste intervalo de tempo... O motivo da minha
força no dia em que escrevi o meu testemunho para a Marine não é o motivo da
minha força de hoje. A intensidade da força que pretendia transmitir a todos os
carequinhas a quem se destina o texto, essa sim, permanece a mesma. Já a nível de frequência... Tem dias! Estou cansada, muito cansada deste processo.
Não é cansaço físico, é cansaço mental, entenda-se. Motivos para me agarrar à
vida não me faltam, é certo, mas há dias negros, é impossível negar a
existência deles. Nesses dias luto comigo própria, tento praticar a filosofia
do viver aqui e agora sem pensar no futuro, sem pensar nas voltas que a vida
deu e nas voltas que vai ter de dar para que tudo se recomponha.
Mas há dias bons,
há dias que, sem nada em particular, são agradáveis e ponto. Há dias em que me
sinto tão bem que nem parece que sou uma doente oncológica. Tenho dito a várias
pessoas que, por ver o final tão perto, até parece que tenho tido menos efeitos
secundários. Vou dizer à Dra Ilídia que devo ser um caso de estudo porque o meu
relato não vai ao encontro da maior parte dos relatos que ouço. O “ah e tal,
prepara-te porque os efeitos secundários agravam-se com as quimios” não combina
comigo, com a minha quimio.
Serão as minhas estrelinhas (onde quer que elas estejam)?
Para lerem o meu testemunho Careca Power podem aceder aqui.
E não deixem de seguir o blog e facebook da Marine, ela sim,
é uma grande Mulher e força da natureza.
Continuo a achar que devíamos utilizar o Barrabás em nosso benefício pelo menos uma vez, antes de ele ir à vida dele 😈😉
ResponderEliminarApesar de ela nunca te faltar, desejo te muita força para esta reta final! Tens sido um exemplo de coragem e admiro te por manteres sempre esse lindo sorriso :) Beijo enorme
ResponderEliminarP.s - Sou fã do teu blog, e mesmo quando não tiveres um "cancro" para falar, seria um prazer continuar a "ler-te" ;)
Raquel Estebainha
EliminarGui isso quer dizer que estás perto do fim? Que está quase a acabar? Beijo grande
ResponderEliminarOlá Margarida, quando leio o posts fico sempre a reflectir, meninas como tu e a Marine( que contigo tive o prazer de conhecer)dão-nos verdadeiras lições de vida, ensinam a quem quiser aprender que a única forma de viver melhor será mesmo tentar desconstruir os problemas e com um pouco de humor a vida fluí. Esta lição não é só para quem se encontra doente.
ResponderEliminarContinua assim, és mesmo especial,felizes dos pais e familiares que têm alguém como tu.
Bjs Verinha.