domingo, 8 de maio de 2016

Digressão nacional

A prova de que, realmente, ando a falhar com este blog é o facto de estar em frente ao computador há uns bons minutos à procura das palavras certas para começar este post. Por não me querer tornar repetitiva as palavras custam a sair. Costumam dizer que o difícil é começar. E com isto já escrevi umas linhas.

Há duas razões essenciais pelas quais tenho estado ausente. A primeira é que não tem havido grande evolução no meu tratamento. 
No início desta semana fui ao IPO fazer uma biópsia. Aquela que era a solução menos provável concretizou-se. Antes de fazerem opções erradas, os médicos decidiram que seria mais sensato tentar chegar ao cerne da questão, à massa de células que permaneceu após a quimioterapia, retirar uma amostra e estuda-la. Uma vez que eu não apresentava sinais clínicos da doença, o objetivo desta biopsia alterou-se: o resultado dela vai servir para ajustar a dose da radioterapia, sendo que a hipótese de voltar à quimioterapia é, praticamente, remota (ainda que não tenha saído da mesa por completo). 

Segundo a Dra Ilídia, a quimio já fez o que tinha a fazer. O que restou há-de ser eliminado pela radioterapia.  Posto isto, e bastante contrariada, lá fui fazer o exame. Antes de assinar o papelinho, coisa que só acontece quando os procedimentos apresentam alguns riscos, pedi, encarecidamente, por uma anestesia para além da anestesia local, qualquer coisa que me pusesse a dormir. Sob pena de ter de fazer a biopsia noutro dia lá aceitei um comprimido para me ajudar a relaxar e fiz a biopsia bem acordada! Bastou-me olhar para o tabuleiro dos instrumentos do médico para ficar uma pilha, aquela agulha tem um tamanho assustador. E pensar que vai ser espetada no peito é aterrador! 
Ao fim de 20 minutos estava já na maca, a receber paracetamol diretamente na veia para não ter dores quando a anestesia local passasse e a chorar como uma Madalena arrependida. Duas horas de repouso, um raio-x ao tórax e fujo, a 7 pés, daqueles carniceiros! 
Não foi tão mau como da outra vez, é certo, mas espero, fervorosamente, que tenha sido a última!

Fui embora com a indicação de repousar, nada de esforços até ao dia seguinte.  Depois é fazer a vida normal. E foi o que eu fiz. A partir daí resolvi praticar o “vá para fora cá dentro” com alguma intensidade e esta é a segunda e verdadeira razão pela qual não pus cá os pés. 

Do Porto segui para Vila do Conde e de lá para Lisboa. No regresso ao Norte decidi fazer uma visita relâmpago a Coimbra... É mais forte do que eu! 
A minha casa, as minhas colegas de casa (mais amigas que colegas), receberam-me de braços abertos como sempre. A mim e à minha tropa! E lá fomos cumprir a tradição, com chuva ou sem chuva, estudante que é estudante não falha uma queima das fitas! 
A esta altura devem achar que sou doida, mas a verdade é que me sinto ótima, com as energias lá no alto. E, não havendo nenhuma restrição médica, não havia razão para não ir, se era essa a minha vontade. Revi muitos amigos, choveram abraços e algumas lágrimas de alegria de ambas as partes. Em menos de 24 horas estava a bordo de mais um autocarro, desta vez em direção ao Porto. De coração apertado, porque soube a pouco, mas de alma cheia, porque voltar a Coimbra é sempre um gosto. Reconheço que já chega de queimas... Mas voltar também foi bom por isso, para me dar essa percepção.

Chego ao Porto debaixo de uma chuva que não dava tréguas e sigo com a Pi em direção a Vila Real. Fomos festejar o “último dos vintes” da minha amiga Raquel, e rever os nossos amigos transmontanos, que conhecemos, claro está, em Coimbra! Na volta, o túnel do Marão abriu alas para a nossa passagem, cruzamo-nos com a comitiva do governo e dissemos adeus ao Sócrates... Vá,  agora estou a inventar!

A azáfama de viagens terminou, ufa!


Volto à base mas tenho o pensamento noutra cidade e no passado, num tempo que foi e não volta. O meu facebook foi invadido por estudantes que se recusam a adiar cortejos académicos devido às condições meteorológicas. Era minha vontade ir ao sótão, sacudir o pó ao traje e sair para as ruas de Coimbra, de cartola roxa e bengala em punho. Afinal sempre foi o curso que quis fazer e era suposto terminá-lo agora. Por alguma razão, que só alguma entidade divina será conhecedora, não foi assim que aconteceu. 
E hoje, numa vila junto ao mar, bem longe de Coimbra, sou invadida por uma nostalgia, uma mágoa, uma revolta e muitas incertezas. Mas deixo que a maresia e o mar revolto me levem esses sentimentos para bem longe.  Aceito o que a vida me deu e convenço-me que o futuro me trará a recompensa. 
Já diz a música, "hoje é o primeiro dia do resto da tua vida". Está na hora de assentar arraiais, planear o estudo e trabalhar no que está ao ao meu alcance para continuar o meu percurso. Hoje, junto ao mar, decidi que não vou só vencer o cancro, mas vou também vencer na vida. 

Lamechices à parte, digo-vos, “um dia ainda me vou rir disto”!

6 comentários:

  1. Querida filha,como escreveu Paulo Coelho ,``Não tenhas medo do sofrimento, pois nenhum coração jamais sofreu quando foi em busca dos seus sonhos.´´

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  2. Coimbra também não estava feliz no dia de ontem com a tua ausência, não deixou o sol espreitasse :)

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  3. Miúda viajada esta!
    Um dia quando olhares para traz, vais ver que tudo isto foi um percalço na tua vida, que te ajudou a conhecer a tua grande força e coragem, uma verdadeira "Lição de Vida".
    Guida, pensa no lado positivo,respira fundo e foca te no teu trabalho.Pode demorar mais um bocadinho, mas não tenho dúvidas nem nunca tive que vais lá chegar.
    Beijinhos, força.

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  4. Olá Margarida, até que enfim, voltas-te!
    Fico e estou triste, verti uma lágrima por tudo que acabastes de partilhar, é muito doloroso para uma menina que tanto lutou e luta para acabar o curso, não poder usufruir daquilo que tem direito,mas a vida por vezes é cruel.
    Temos saudades tuas, pensamos em ti todos os dias, lutamos contigo e com o espírito de luta que tens vais vencer.
    Verinha

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  5. Adorei tudo o que escreveu. Parabéns!

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  6. Olá Margarida e o teu tio Antônio e tia Esmeralda acabamos de ler agora a tua ultima postagem estamos torcendo muito por vc e esperamos que fique boa logo estamos orando por vc beijinhos

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