quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Diagnóstico - Parte III (e última!)

Falta-me aqui contar como fiquei a saber que tinha um cancro. Podia ter resumido a história do diagnóstico num único post e assim contava-a de uma só vez... Mas vou-me lembrando deste e daquele pormenor e acabo por divagar. Foi quase há um mês que descrevi a fase do internamento nos HUC e por isso já devem ter perdido o fio à meada... 

Basicamente, depois de passar 10 dias no hospital a curar a pneumonia, tive alta no dia 20 de Novembro e vim para casa esperar pelo resultado das biópsias. O que se sabia até ali era que havia uma massa de células anormais, com um tamanho considerável, e a principal suspeita era um tumor no Timo. Se assim fosse, a cirurgia era a solução. Fácil e rápido de resolver. No entanto havia outra possibilidade, possibilidade essa que todos os médicos me omitiram, à excepção da Eliana, que era ser um linfoma. Era tão pouco provável que nunca pensei muito nisso. Andava ansiosa com tudo o que estava a acontecer, a espera de resultados estava a dar cabo de mim... Tentava estudar, para me abstrair do assunto e tentar fazer algumas cadeiras, mas,  simplesmente, não dava. Insistia em permanecer em Coimbra e ir aos exames, afinal não tinha nada a perder. Por outro lado, quando me chamassem do hospital para saber dos resultados era só sair da faculdade e ir ao hospital que fica ali ao lado! Pensei em tudo e, mais uma vez, saiu tudo ao contrário. 

Na madrugada de 2 de Dezembro senti uma dor fortíssima no peito, semelhante à dor da pneumonia, mas muito mais intensa. Acordei sobressaltada, respirei fundo e deixei-me ficar quietinha a ver se passava. Era uma dor intermitente, que de repente me invadia e me cortava a respiração. De manhã cedo pedi à Marina, minha amiga e colega de casa, que me levasse às urgências. Era essa a indicação que tinha por parte dos médicos da Pneumologia.  Nem queria acreditar que estava ali outra vez... Felizmente não estava muita gente e fui rapidamente atendida. Parecia que tudo se repetia. As mesmas perguntas, o mesmo procedimento... A médica mandou-me sair para fazer análises e pediu para depois aguardar na sala de espera. Passado uns minutos a médica voltou a chamar-me ao consultório. "Tão rápido?", pensei eu. Estranhei a atitude dela, achei-a nervosa. "Recebemos o resultado dos exames que fez enquanto esteve aqui internada". Fiquei calada, à espera que continuasse. "A Margarida tem um linfoma". 
Lamentou dar-me a notícia e disse-me que o médico hematologista já tinha sido chamado e viria à urgência falar comigo. Pediu-me para aguardar lá fora. Eu fiquei sem reação. Acho que não falei, não lhe respondi a nada do que disse. Levantei-me, saí e deixei-me cair numa cadeira. Não sei quanto tempo estive ali, a olhar para o nada e com a cabeça a mil. 
Peguei no telemóvel e liguei à minha mãe. Menti-lhe sobre o facto de saber o diagnóstico e disse-lhe para vir com o meu pai. Entretanto a Dra Fátima, da Pneumologia, veio ter comigo e levou-me para um consultório. Com as lágrimas nos olhos deu-me um abraço e eu desabei ali... Entretanto chegou o Dr. Pedro, bem mais frio e distante, e começou a debitar informação acerca do linfoma. "Tem um linfoma de não-Hodgkin das células B grandes do mediastino, um linfoma agressivo e característico da sua faixa etária. É um cancro, mas não é dos mais graves. Vai fazer quimioterapia e é para curar, tá bem?" Não, não está bem. Como é que eu tenho um cancro? Isso só acontece aos outros!

Combinamos que esperaria pelos meus pais e voltava a reunir-me com ele. Entretanto liguei à Pi, à Joana e à Eliana. Evitei falar com o Pedro, que tinha um entrevista nesse dia, e quando me ligou menti-lhe também... A Eliana materializou-se ali e ficou a fazer-me companhia. Ia respondendo às minhas perguntas e enxugando as minhas lágrimas. Quando os meus pais chegaram foi ter com eles, deu-lhes a notícia e trouxe-os até mim. Nunca mais me vou esquecer dos olhares deles a entrar na urgência... Nunca me vou esquecer do apoio da Lia, de tudo o que fez por mim naquele hospital e fora dele.
O Dr. Pedro voltou ao consultório, explicou aos meus pais o que se passava e que tipo de tratamento teria de fazer. A Lia colocou questões, os meus pais também. O médico explicou que a doença estava muito bem estudada, que não há restrições orçamentais em Portugal para tratar doenças hematológicas e, por isso, o protocolo que seguem em Portugal é o melhor. Não havia por isso necessidade de ser tratada a nível particular e, muito menos de entrar em ensaios clínicos. Só precisava de decidir se queria ser tratada em Coimbra ou no Porto, no IPO ou no hospital. Não fazia sentido ficar em Coimbra por isso decidi pedir transferência para o IPO do Porto. Depois de esclarecermos todas as dúvidas deixamos o hospital.

O meu irmão, a Maria, a Pi e a Bé apareceram em Coimbra, o meu pai voltou a Felgueiras, a minha mãe ficou comigo. Passámos a tarde na esplanada, a aproveitar o solinho. No dia seguinte  chamaram-me para realizar um exame, a PET. É um exame bastante demorado e, quando finalmente saí, a meio da tarde e em jejum, tinha as minhas amigas Rute e Raquel, que vivem em Barcelona, à minha espera. Só para me darem um abraço e dizerem que vai tudo correr bem. Sou uma sortuda... Tenho tantos e tão bons amigos!

Depois disto tudo regressei a Coimbra para uma última consulta de Hematologia antes de ser transferida para o IPO do Porto. Duas semanas depois de ter sido diagnosticada com linfoma de não-Hodgkin fui internada para começar o primeiro ciclo de quimioterapia. O resto da história já conhecem!

Neste momento estou prestes a entrar no 5º ciclo. Já só faltam 2 para acabar a quimioterapia! Tenho reagido bem, pensei sempre que todo este processo seria bem pior. Tenho dias maus, obviamente... Hoje foi um deles, acordei com uma enxaqueca horrível que se manteve até ao fim da tarde. Valeu-me a sessão de Reiki que fui fazer. Placebo ou não, alivia-me as dores e revitaliza a mente!

Depois deste post já não guardo nada do passado para contar. Tudo o que vier serão relatos do meu dia-a-dia. O blog vai assim abrandar um pouquinho... É que entretanto surgiu a oportunidade de realizar um exame na faculdade na época extraordinária de Março. Se o fizer agora é menos um exame que terei em Julho e por isso vou dedicar-me, intensamente, a ele. É difícil planear o estudo (comigo tem mesmo de ser planeado) quando o objetivo é viver um dia de cada vez. Ainda hoje os planos me sairam furados. Mas se há coisa que o cancro me ensinou é que não devo entrar em pânico se as coisas não correm como desejamos. Se correm de outra forma é porque tinha de ser. O segredo é aceitarmos e adaptarmo-nos às novas situações. O sentimento de revolta não nos leva a lado nenhum e, na verdade, a pior das situações tem sempre um lado positivo. 
Só temos de querer vê-lo! :)

7 comentários:

  1. Nesse dia disse-te, entre muitas lágrimas, que tudo ficaria bem e quando te faltassem as forças, eu teria força por ti...até hoje não foi preciso :) és a melhor, Love you*

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    1. As forças não me faltam porque tenho pessoas como tu, diariamente, ao meu lado!
      Love you too*

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  2. Guida depois de teres passado por tudo isto, o segredo é mesmo esse, tentar tirar sempre o lado positivo das coisas negativas que a vida trás.
    Era tão bom se conseguisses estudar para este exame,dia após dia com calma vais conseguir.Não é fácil, mas quem disse que a vida era fácil!
    Força, sempre muita força.
    Beijinhos.

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  3. Olá Margarida, todos estes posts relembram dias angustiantes, nunca mais me vou esquecer, dizem que o que não nos mata, fortalece-nos, não sei se é assim, só sei que o ser humano não é feito para viver com tantos medos e incertezas, sem um fim à vista, seja o que for que venha a seguir temos que sentir o chão não podemos estar em suspenso, o tempo pára, cada minuto que passa cada vez à menos para dizer e sonhar, por isso este dia 2 de Dezembro foi para mim um alívio, havia um diagnóstico, um tratamento, uma luz que já começava a faltar.
    Nesse dia passei-o ao telefone com variadas pessoas, dizendo sempre que existia cura e sabendo da força que tu tinhas serias uma vencedora. Mais tarde dissestes que estavas numa esplanada aproveitar o sol, a seguir falei com a Irene e ela lá dizia que pena estar tão longe a minha vontade era dar-lhe um abraço e eu sentia o mesmo, mas tenho a certeza que os nossos abraços chegaram a Coimbra.
    Nessa noite estava a preparar o jantar e ao meu lado tinha o charlie deitado na sua confortável almofada, muito atento a ouvir as boas notícias que eu tinha para lhe contar, e disse-lhe para estar descansado que a Guidinha já o viria buscar para sempre.
    Obrigada por seres a menina que és e eu poder fazer parte da tua história.
    Bjs Verinha.

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    1. Passou tão rápido... Nesse dia soube o que teria de fazer para vencer, hoje já só falta uma sessão para chegar ao fim do tratamento. Está quase :)

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  4. Quando estivermos juntas explico-te melhor em que consiste e como funciona. O tempo tem ajudado a que me sinta bem e por isso não tenho feito sessão nenhuma, mas é uma terapia muito interessante! Beijinhos ao Gabriel, deve estar um reguila :)

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