domingo, 17 de janeiro de 2016

A Revolta dos Pastéis de Nata

Nos últimos tempos, por força das circunstâncias, tenho vindo a constatar que a alimentação no doente oncológico é da máxima importância. Todas as pessoas com experiência direta ou indireta nestas coisas dos cancros e das quimioterapias dizem que a alimentação não foi o ponto mais crítico da situação, mas todas relatam, sem excepção, algum episódio "gastronomicamente" menos positivo.

Tive sorte de, neste segundo ciclo, não ter enjoado de nenhum alimento (lá estás tu a meter a carroça à frente dos bois... o 2º ciclo ainda não acabou!), mas no primeiro não tive escapatória...

A minha amiga Carolina, vinda diretamente de Lisboa para me visitar no fim-de-semana antes de Natal, e sabendo como sou perdida por Pastéis de Belém (ou era!) trouxe consigo 2 caixinhas deles, bem fresquinhos! Nesta altura há quem pense que eu devorei 10 pastéis, mas vá, também não sou assim tão gulosa! Comi apenas um. Soube-me pela vida. É um sabor tão nosso, tão português!
Na impossibilidade de receber mais do que duas pessoas por dia no internamento do IPO, ofereci uma das caixinhas ao pessoal lá do sítio. Apesar de se destinarem a serem comidos por mim e pela minha família, soube-me bem poder dar um miminho tão saboroso às enfermeiras e auxiliares que estavam ao serviço naquela tarde.

Como eu estava a dizer, comi apenas um. Não me perguntem o que aconteceu, mas depois daquele pastel não consegui comer mais nenhum. Nem olhar para a embalagem tão característica daquela casa eu podia. De todas as vezes que o fazia ficava de tal forma nauseada que tive de os fazer desaparecer da minha mesa de apoio... Conhecendo a Carolina como conheço, e sendo ela uma menina de Cascais, sei que quando ler este post vai pensar: "Que aborrecimento, fui transtornar o apetite à miúda!". Minha querida, a culpa não é tua, descansa, mas sim do raio do tratamento!!

Apercebi-me, neste preciso momento, que passou exatamente um mês desde essa visita. E desde então que a aversão a pastéis de Belém se mantém. 
Já não sei a que propósito, no dia de Natal comentei esta aversão recentemente adquirida à mesa, enquanto jantávamos cá em casa. A minha avó, já de uma certa idade, não entendeu que falava dos ditos pastéis com uma certa repulsa e fez questão de frisar "Guida, sabes como eles são bons? Quentinhos, mesmo a sair do forno!". Eu tentei a todo o custo afastar aquela visão do inferno e, num alvoroço, todos os que estavam à mesa tentaram mudar de assunto. Ela, coitadinha, não percebeu. E resolveu frisar de novo "E com canela e açúcar em pó por cima?!". Foi risota geral!

Deixando os pastéis (que já não posso ouvir falar) e voltando à importância da nutrição... Como só tenho consulta de Nutricionismo no IPO marcada para fevereiro, empenhei-me em saber mais sobre o assunto. Comprei um livro, de umas autoras espanholas e, entretanto, a Belinha ofereceu-me outro, lançado recentemente, que compila receitas de vários chefs de cozinha especialmente dirigidas a doentes oncológicos em fase de tratamento.


Ainda não tive oportunidade de explorá-los a 100% mas como facilmente se prevê, estão repletos de dicas e conselhos nutricionais para prevenir a desnutrição durante os tratamentos de quimo e radioterapia. Têm, inclusivamente, indicação de quais os melhores alimentos para combater ou evitar determinados sintomas que frequentemente surgem. O "Comer para Vencer o Cancro" está dividido em duas partes, uma onde constam os tais conselhos e outra que aborda a nutrição como uma via de prevenção de certos tipos de cancro. Ou seja, não são livros que se destinam, exclusivamente, a doentes com cancro, mas sim ao público em geral, o que os torna menos enfadonhos e mais interessantes para todos cá em casa!

Com tantas receitas nem sabia por qual começar mas optei por uma do Chef Henrique Sá Pessoa, uma omeleta-soufflê de cogumelos acompanhada por uma salada de rúcula. Tentei que a minha avó participasse ativamente na confecção da receita, visto ser também ela uma grande entusiasta de cozinha e sábia no que diz respeito a cozinha tradicional portuguesa. 

Não sou uma fotógrafa exímia, apesar de essa área me atrair bastante, mas prometo que vou dar o meu melhor, não só na cozinha como na foto reportagem, pois o objetivo é partilhar algumas dessas receitas aqui no blog. Para minha e vossas delícias :)

6 comentários:

  1. Guidinha <3, já há algum tempo que queria comentar aqui no blog, como vamos falando por outras vias fui deixando passar. Fico triste por deixares de gostar de pastéis mas também com uma certa inveja ... Quem me dera não gostar e conseguir dizer que não a um belo pastel.
    Estou a gostar muito de te ver entusiasmada com este teu cantinho. Aliás, quando passo por cá é como se tivéssemos ido ao café pôr a conversa em dia. Na minha opinião este blog ainda pode vir a dar um livro! Porque não?!
    Vamos falando e vamo-nos "encontrando por aqui".
    Beijinhos minha querida. Saudades

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    1. Já que a distancia que nos separa é grande, espero que nos encontremos por cá muitas vezes! ;)
      Beijinho amiga

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  2. Hey Margarida :) como não podia deixar de ser acompanharei o teu blog a partir de agora e queria dar.te os parabéns por partilhares de forma tao descontraída os teus dias nesta luta. 'Reconheci.te' o ano passado (pois passado tantos anos era difícil) mas o teu sorriso depois fica dificil de esquecer. Cruzamo.nos por breves momentos, hoje mais um deles, hoje mais do mesmo sorriso. Espero que nao tenhas mais bad days e aquele fique continuamente no top, que 'isto' seja breve e passe muito rápido e daqui a nada estarás a devorar 10 pastéis de nata. Muitos beijinhos*

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    1. Obrigada Joana!
      Espero que nos cruzemos muitas mais!
      Um beijinho para ti e para a tua mãe

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  3. Olá Margarida! Espero que te encontres bem. Li o teu post e sei que vais ter uma consulta de nutrição. Conheço perfeitamente quem te vai atender porque já estive lá (sou nutricionista). Isto para te dizer, que tal como tu, também sou de felgueiras. Qualquer coisa que precises, dúvidas, enjoos de última hora, posso-te ajudar! Acho que devemos ajudar toda a gente, mas aos da terra toca o coração! Um grande beijinho para ti

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    1. Olá Paula!
      Peço desculpa por não ter respondido antes.
      Desde já, obrigada pela mensagem :)
      Já tive a tão esperada consulta e, como descrevi numa das minhas últimas publicações, não achei que acrescentasse muito ao que já sabia. Provavelmente porque também já li bastante sobre o assunto e não por falta de mérito de quem me atendeu. Agradeço-lhe imenso a ajuda! Isto de controlar os enjoos não é fácil, mas vai-se dando um jeito!
      Um beijinho e obrigada mais uma vez :)

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