terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Diagnóstico - Parte II

Este post devia ter surgido logo após a parte I mas... Acho que ainda vou a tempo!

Como disse anteriormente, foi internada nos HUC com diagnóstico de Pneumonia, no dia 10 de Novembro, uma terça-feira. Fiquei no serviço de observação, na urgência, durante 24h e quando achei que iria ter alta transferiram-me para o serviço de Pneumologia. As dores que me levaram à urgência tinham passado e eu sentia-me ótima. Não havia razão para eu estar ali, primeiro porque estava tudo controlado, não era uma pneumonia por aí além que não pudesse ser curada cá fora e segundo porque estamos a falar de um hospital público central, as pessoas só lá ficam em caso de extrema necessidade. No entanto, mantiveram-me ali por prevenção. Havia uma mancha estranha... Tromboembolismo pulmonar? Lesão neoplásica? Os médicos não me diziam nada diretamente, eram sempre muito vagos por isso fui obtendo informações através das minhas informadoras secretas dentro dos HUC... Um verdadeira máfia! 

Marcaram-me exames médicos para dias diferentes e comecei a aperceber-me de que ia ficar ali por tempo indeterminado. A minha preocupação eram os exames da faculdade, sempre a faculdade. Desisti dos exames dessa semana e comecei a estudar para o exame da semana seguinte, Virologia, esse pincel. A minha agente infiltrada Eliana, médica em Coimbra, levou-me a conhecer o hospital (onde se circulava sem qualquer restrição), mostrou-me a máquina de café na ala dos transplantados, a biblioteca para onde fui estudar várias vezes, de pijama vestido, e até o sítio secreto onde os médicos, sorrateiramente, iam fumar... Mas desta informação eu já não precisava, felizmente!

Fiz amizade com as senhoras que partilhavam o quarto comigo, a D. Benilde e a D. Lurdes. Falava com elas para as ajudar a passar o tempo. Não podiam sair do quarto, ao contrário de mim que andava sempre no passeio. Nem uma televisão havia para se entreterem... Diziam-me que era a florzinha delas!

No seio dos enfermeiros e auxiliares fiz amigos também. Não houve um único que não gostasse, não havia nada a apontar-lhes, absolutamente nada. Apercebi-me do papel fundamental que desempenham. Quando não se tem noção da dinâmica de um serviço hospitalar é natural que não se tenha essa percepção. Se, para mim, já era chocante a precariedade das condições de trabalho destes profissionais, agora ainda mais o é. 

Comecei a fazer os tais exames médicos. Primeiro a broncofibroscopia óptica, um exame que se assemelha a uma endoscopia só que em vez de observarem o estômago, observam os pulmões. Torci um bocado o nariz à Dra Fátima quando ela me explicou que exame era este. Entrei em pânico quando, no dia do exame, percebi que ia ser entubada pelo nariz e não pela boca. Valeu-me a anestesia, da qual não tinha vontade de acordar, sentia-me nas nuvens! Encontraram a lesão e fizeram uma biópsia.

Posteriormente marcaram uma TAC. Depois deste exame tudo começou a ficar mais claro. Detectaram uma massa de células num espaço que existe no tórax, o chamado mediastino. Inicialmente pensaram tratar-se de uma lesão no Timo. Para confirmar, marcaram, de urgência, uma biópsia transtorácica. Iam furar-me o peito para irem, diretamente, ao local da lesão... Aí comecei a ficar preocupada... A Dra Fátima disse-me que tinha de fazer o exame o mais rápido possível e, por isso, se não fosse possível fazer nos HUC teria de ir ao Hospital dos Covões fazê-la.

De todos os meus amigos e família que me foram acompanhando, por vezes muito para além da hora de visita do Hospital, quem mais me apoiou na hora desses exames foram as minhas enfermeiras do coração, a enfermeira Alexandra e enfermeira Dina.

No dia da biópsia transtorácica a Dina acompanhou-me aos Covões. Eu estava muito nervosa e com razão. Imaginem o que é estar amarrada numa maca enquanto vos fazem uma TAC e espetam uma agulha gigante no peito... Deram-me anestesia local mas a certa altura tiveram de a reforçar porque eu estava a sentir mais do que era suposto... Chorei, mais de nervosismo que de dor. Quando saí do exame lá estava a Dina. Nunca mais largou a minha mão, até voltarmos para os HUC de ambulância. E nos HUC estava a Alexandra à minha espera. Todos os dias, a Alexandra. Quando, de manhã, ouvia a sua voz forte no corredor sorria e esperava que entrasse no quarto com a sua boa disposição. 
Durante o tempo que estive internada e, fora do horário de visitas, foram o meu suporte, tornaram tudo mais leve. E por isso ser-lhes-ei eternamente grata!

Depois deste exame manhoso tive de permanecer deitada o resto do dia. Ao fim da tarde fiz um raio x para confirmar que não tinha ocorrido nenhuma complicação e só aí pude levantar-me. O exame de Virologia era no dia seguinte, dia 20. Sabia que depois deste exame médico nada mais tinha a fazer nos HUC e provavelmente iria ter alta. Mas ir ao exame na faculdade estava já fora de questão. Nem tinha estudado em condições nem estava em condições mentais de o fazer. Perdi o foco. Já só queria sair dali e ir para casa. E assim foi, na sexta tive alta e tinha a minha mãe e o meu irmão à minha espera para me levarem para o miminho de casa! 

Sair daquele hospital foi uma sensação de liberdade incrível e voltar a Felgueiras foi uma lufada de ar fresco, quanto mais não fosse porque nos HUC as janelas não se abrem :)


3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Graças a Deus vc já está em casa junto à família estamos todos muitos felizes por mais essa Vitória milhões de beijinhos

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