terça-feira, 12 de janeiro de 2016

2º Ciclo de quimioterapia

Começou ontem o segundo ciclo.
Todos os ciclos começam com análises, para haver certeza de que estamos aptos para receber a químio.
Cheguei ao IPO às 8 da manhã, já a sala de espera das colheitas estava a rebentar pelas costuras. Questionei-me se não teria sido boa ideia ter trazido a máscara, deve haver imensa "bicharada" a circular por aí, e nos hospitais ainda mais. Fiz análises às 9 e como sei que os resultados demoram cerca de 2h, previ que a consulta (marcada para as 10h) iria atrasar, não fosse eu a nova assistente do Professor Caramba, com estes lenços que agora uso na cabeça, como diz o Luís, um amigo meu.

Dito e feito, a consulta começou às 11h, hora para a qual estava programado o início da químio. A Dra Ilídia recebeu-me com o sorriso habitual, gabou-me o lenço e perguntou-me onde tinha aprendido a coloca-lo daquela maneira. Com as análises na mão, informou-me que estavam óptimas, com todos os valores dentro do normal. Também me disse que não iria ser sempre assim... É que, se o primeiro ciclo durou 21 dias, a partir de agora serão ciclos de 15. Ontem foi o dia 1, hoje é o dia 2. Como faço químio de 3 dias, só vou ter 12 dias para recuperar. A químio causa mielosupressão, ou seja, todas as células sanguíneas, eritrócitos, glóbulos brancos, plaquetas sofrem uma diminuição brutal no seu número, e consequentemente, a sua função fica comprometida. Como esta diminuição só começa a surgir uns dias depois da químio terminar, não há tempo para haver uma recuperação completa. Por outras palavras, quando começar a recuperar levo logo outra "tareia"... Foi a Dra Ilídia que o disse! 
Fiz-lhe várias perguntas, sobre o que posso ou não fazer durante o tempo que estou em casa. Acerca do exercício físico, proibiu-me de ir ao ginásio (estava a ponderar fazer pilates) e disse-me que devo evitar o contacto próximo com outras pessoas (também estava a ponderar ir aprender umas kizombadas com a Lu). Vou ter de optar por umas caminhadas ao ar livre, nada de corridas e exercício físico intenso. Devo ter feito uma cara esquisita, porque logo me disse que o meu corpo me vai mostrar que ela tem razão!
Sobre centros comerciais e cinema, explicou-me que, para além de estarem infestados de micróbios, o grande problema são os filtros de ar onde se alojam verdadeiras colónias de bactérias que, para o comum mortal são indefesas, mas para mim podem representar um perigo. Fiquei com pena, afinal esta é a melhor altura para ver bons filmes no cinema... Mas como um irmão prevenido (ou não) vale por dois, já lá tenho em casa uns pacotes de pipocas marca continente para fazermos uma sessão de home cinema! :)

A Dra Ilídia trocou-me o esquema do primeiro dia de químio. No internamento fiz, no primeiro dia, os 5 fármacos e o anticorpo, por via intravenosa. Só o saco do anticorpo demorou 5 horas e mediam-me a tensão de meia em meia hora, uma seca. Isto porque uma administração muito rápida poderia resultar numa resposta imunitária inesperada e poderia comprometer o resto do dia de tratamento. Desta vez, em hospital de dia, e uma vez que não apresentei qualquer reação ao Rituximab no internamento, trocaram a via intravenosa pela via subcutânea. Uma injeção e já está, menos cinco horas que tenho de cá ficar!
Quanto aos outros fármacos, tenho de os continuar a fazer da mesma forma: o etoposido,  a ciclofosfamida e a doxorrubicina por perfusão lenta (ficam os saquinhos dependurados como se fosse soro), a vincristina e a metilprednisolona são injetados quase diretamente no catéter. 

Já tinha estado numa sala de químio, no IPO de Coimbra. Consiste numa série de cadeirões, dispostos em torno da sala, cada um com um banco ao lado para o acompanhante. No centro da sala estão as enfermeiras e tudo o que elas precisam para pôr o tratamento a correr. Só que no IPO do Porto é tudo mais à frente. Tudo mesmo. Nestas salas de químio, os cadeirões tem a mesma disposição, mas cada um deles está separado do cadeirão seguinte por um vidro fosco onde se encaixa um plasma. Há, portanto, um plasma para cada doente. Aliás, os cadeirões não se limitam a ser simples cadeirões: são daqueles elétricos, mega confortáveis com um comando onde conto 8 botões diferentes. Até a cadeira onde a minha mãe se senta é uma cadeira almofadada, bem mais confortável que um banco. Ainda tenho a opção de puxar o blackout, uma tela que está presa ao tecto. Assim, não tenho de ver a vizinha da frente que acompanha o pai idoso e que está sempre a olhar para mim enquanto pensa "Valha-me Deus, uma rapariga tão nova!"

No IPO do Porto não há processos em papel, é tudo informatizado, o que agiliza a nossa passagem por cá. Quando chego à Dra Ilídia as análises já lá estão no computador e se ela resolver marcar-me um raio x para esse dia, quando me dirijo à radiologia, já lá estão à minha espera. Para não falar dos kiosks, umas maquinetas que estão espalhadas por todo o lado e onde, ao inserir o nosso cartão do IPO, temos à nossa disposição uma secretaria virtual. 

Nos HUC não havia estas comodidades todas, é um hospital antigo, não se pode pedir mais. Mas a simpatia, delicadeza de todos os profissionais que encontrei (todos, todos mesmo), compensa tudo o resto. 

Desde que entrei nestas andanças de hospitais e internamentos, não paguei um único tostão. Nem um cêntimo. Tenho tudo o que preciso, sou tratada como deve ser, sem nenhuma restrição. E ainda encontro médicos, enfermeiros, auxiliares, voluntários, com diversas qualidades das quais destaco a competência, sensibilidade e humanidade. Nunca encontrei, em parte nenhuma, pessoas tão humanas, especialmente no IPO.

Não percebo as queixas dirigidas a este SNS. Eu cá não preciso de privados, usufruo deste serviço, para o qual desconto mensalmente, sentada no meu cadeirão elétrico, numa posição intermédia entre o sentado e o deitado, enquanto assisto ao programa da Fátima. Querem melhor?!








14 comentários:

  1. Só trocava o programa da Fátima pelo da Júlia..é outro campeonato x) beijinho!

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    1. Ainda não descobri como se muda de canal! Nunca atinei muito com televisões xD

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  2. Sem sombra de dúvida no IPO PORTO todos os médicos/ técnicos/ enfermeiros/ auxiliares/ administrativos/ colaboradores são excepcionais.. Existe sempre uma atenção, um sorriso. Como se costuma dizer todos foram escolhidos a dedo!!
    Ontem vi-te na sala de espera do Hospital de Dia e na sala de químio.. Estava a acompanhar a minha mãe que esteve na mesma sala que tu.. E sinceramente estive quase para ir ter contigo apenas para te dizer.. "Força! Admiro-te", mas pensei duas vezes.. E achei melhor não..
    Mas é mesmo isso que penso... "Admiro-te" muito!!

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    1. Carla, da próxima vez que me vir por favor venha ter comigo, eu não a conheço! Estava tão entediada naquela sala, sempre fazíamos companhia uns aos outros :)
      Um beijinho e tudo de bom para a sua mãe!

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  3. Tu dá lhe Gui!! Muita força e dá cabo do Barrabás! beijinhos

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  4. Margarida. Admiro a tua calma, a tranquilidade que mostras, a tua disposição face ao inevitável, a tua partilha simples e sincera. Sei, ou não sei, que lá muito no fundo, nos abismos da consciência, a dúvida. maléfica e sempre presente, persistirá. Mas também sei que, como diz a tua Mãe, tu és uma "indigo girl". E, como pessoa especial, a tua demanda contra a força do mal terá um resultado vitorioso e o dragão negro será exterminado para sempre. Beijinho do primo intelectual :)

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    1. Não sei, estou na dúvida, coloco ou não coloco... Ouvindo o meu arquivo musical youtúbico dou de caras com esta música do Caetano que me acompanha há muitos, muitos anos. Espero que gostes.

      https://juliojgpereira.wordpress.com/2015/02/04/caetano-e-chico-juntos-e-ao-vivo-02-partido-alto/

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    2. Obrigada Júlio! :)
      Gosto muito de Caetano, obrigada pela partilha!
      Beijinhos

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  5. As queixas dirigidas ao SNS deve-se em grande escala à população que desconhece os sistemas de saúde noutros países! Partilho a tua opinião Gui. Força!!

    Tess

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  6. Certo dia numa discussão algures no mar das Bahamas tive uma luta de egos com um rapaz brasileiro que me atirou à cara que somos a cauda da europa e bla bla bla.

    Na altura (há mais de 11 anos) "atirei-lhe" o cartão do SNS à cara.

    Continuação de bom tratamento.

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